24 de junho de 2009

Adeus Monsanto?

Material e Métodos:

Efeito boomerang na Monsanto

23/06/2009

Do Rebelión.org



Sementes de Soja Transgênica (Roundup Ready)


Nos EUA, agricultores precisaram abandonar cultivos de 5 mil hectares de soja transgênica e outros 50 mil estão gravemente ameaçados. Esse pânico deve-se a uma erva “daninha” que decidiu se opor à gigante Monsanto, conhecida por ser a maior predadora do planeta. Insolente, essa planta mutante prolifera e desafia o Roundup, o herbicida total à base de glifosato, ao qual “nenhuma erva daninha resiste”.

Quando a natureza se recupera

Em 2004, um agricultor de Macon, situada a 130 km de Atlanta, no estado da Geórgia, EUA, notou que alguns brotos de amaranto resistiam ao Roundup que ele utilizava em suas lavouras de soja.

As lavouras vítimas dessa erva daninha invasora tinham sido semeadas com grãos Roundup Ready, que receberam um gene resistente ao Roundup ao “qual não resiste nenhuma erva daninha”.

Desde então, a situação tem piorado e o fenômeno se estendeu a outros estados, como Carolina do Sul e do Norte, Arkansas, Tennessee e Missouri. Segundo um grupo de cientistas do Centro para A Ecologia e Hidrologia, organização britânica situada em Winfrith, Dorset, produziu-se uma transferência de genes entre a planta modificada geneticamente e algumas ervas indesejáveis como o amaranto. Essa constatação contradiz as afirmações peremptórias e otimistas dos que defendem os organismos modificados geneticamente (OGM), que afirmam que uma hibridização entre uma planta modificada geneticamente e uma não modificada é simplesmente “impossível”.

Para o geneticista britânico Brian Johnson, especializado em problemas relacionados com a agricultura “basta que aconteça somente um cruzamento, que pode ocorrer entre várias milhões de possibilidades. Uma vez criada, a nova planta possui uma enorme vantagem seletiva e se multiplica rapidamente. O potente herbicida aqui utilizado, à base de glofosato e amônia, tem exercido uma pressão enorme sobre as plantas, que por sua vez aumentaram ainda mais a velocidade de adaptação”. Assim, ao que parece, um gene de resistência aos herbicidas deu origem a uma planta híbrida surgida de repente entre o grão que se supõe que ele protegeria e o amaranto, que por sua vez se torna impossível eliminar.

A única solução é arrancar à mão as ervas daninhas, como se fazia antigamente, mas isso já não é possível dadas as dimensões das áreas de cultivo. Além disso, por terem raízes profundas, essas ervas são extremamente difíceis de arrancar, razão pela qual simplesmente se abandonaram 5 mil hectares de soja.

Muitos agricultores pretendem renunciar aos OGM e voltar para a agricultura tradicional, ainda mais por que os cultivos OGM estão cada vez mais caros, e a rentabilidade é primordial para esse tipo de lavoura. Assim, Alan Rowland, produtor e vendedor de sementes de soja em Dudley, Missouri, afirma que já ninguém pede sementes do tipo Roundup Ready, da Monsanto, que ultimamente representavam o 80% do volume de seus negócios. Hoje as sementes OGM estão desaparecendo de seu catálogo e a demanda por sementes tradicionais não deixa de aumentar.

Já em 25 de Julho de 2005, o jornal The Guardian publicava um artigo de Paul Brown que revelava que os genes modificados de cereais tinham passado para as plantas selvagens e criado uma “super semente”, resistente aos herbicidas, algo “inconcebível” para os cientistas do Ministério do Meio Ambiente. Desde 2008 os meios de comunicação ligados à agricultura dos EUA informam cada vez mais casos de resistência, ao mesmo tempo em que o governo daquele país tem realizado cortes importantes no orçamento da Secretaria da Agricultura, que o obrigaram a reduzir e depois interromper algumas de suas pesquisas nessa área.

Planta diabólica ou sagrada?


Amaranthus tricolor (Amaranto)

Resulta divertido constatar que o amaranto, essa planta “diabólica” para a agricultura genética, é sagrada para os incas. Pertence aos alimentos mais antigos do mundo. Cada planta produz uma média de 12 mil sementes por ano e as folhas, mais ricas em proteínas que as da soja, contém sais minerais e vitaminas A e C.

Assim, esse boomerang, devolvido pela natureza à Monsanto, não neutraliza somente essa empresa predadora, mas instala em seus domínios uma planta que poderia alimentar a humanidade em caso de fome. Ela suporta a maioria dos climas, tanto as regiões secas, como as de monção e as terras altas tropicais, além de não ter problemas nem com os insetos nem com doenças, com o que nunca precisará de aplicação de agroquímicos.

Assim, o amaranto enfrenta a muito poderosa Monsanto como David se opôs a Golias, e todo mundo sabe como acabou o combate, mesmo que muito desigual! Se esses “problemas” ocorrerem em quantidade suficiente, que é o que parece que vai acontecer, em seguida não restará opção à Monsanto do que fechar as portas. Além de seus empregados, quem realmente se compadecerá com essa fúnebre empresa?

(Dica: Arthur Valente - Professor Dep. de Botânica da UFJF)

Resultados e Discussão:

Texto apaixonado à parte, fui a uma pequena e breve busca sobre artigos publicados sobre o assunto, e descobri que ervas daninhas resistentes ao glifosato (RoundUp) não são exclusividade dos EUA e muito menos do Amaranto. Outras ervas resistentes já foram descritas inclusive no Brasil e Argentina, outros dois grandes produtores de soja e algodão (outra cultura geneticamente modificada com o RoundUp Ready) que também são "clientes" da Monsanto.

Pois bem, um ponto que tenho que me ousar a discordar da reportagem é sobre a transferência de gens da planta modificada (soja ou algodão) para a erva-daninha. Como isso pode ser provado? Que eu saiba existem sim vetores naturais de inclusão gênica, tais como vírus e bactérias, mas normalmente estes infectam plantas adultas, incluem sequências de seu próprio genoma, gerando desta forma tumores (inclusive estes vetores são utilizados em laboratório para a engenharia genética de plantas em algumas técnicas), mas para produzir uma transferência desse modo explicado pelo artigo seria necessário um vetor isolar o gene da planta transgênica e transferir para um gameta da erva daninha. Sobre o cruzamento e a produção de hibridos me parece um pouco improvável, principalmente pelo diferente número de espécies já identificadas e consequentemente de sua diversidade e divergência taxonômica (que se diferem a partir de "Ordem").

O que eu entendo que possa ter ocorrido, me baseando também pelo número de espécies que já demonstraram resistência, é que se trata de um processo de alta pressão seletiva sobre tais plantas, que então acabaram por selecionar os seus próprios fenótipos resistentes. É a natureza dando sua resposta realmente, e da forma que sabe melhor, evoluindo.

Outra ressalva sobre o artigo é o ponto onde ele "praticamente comemora" o retorno destes agricultores a agricultura tradicional. TRADICIONAL galera, ninguém aqui está falando em orgânicos ou agroflorestas, tal método de cultura chega a utilizar doses ainda maiores de pesticidas e herbicidas nas plantações sendo potencialmente muito mais agressivos do que o próprio RoundUp, tanto para o meio ambiente quanto para a saúde humana.

É inegável o avanço tecnológico que os transgênicos trouxeram em matéria de produção (ainda que seja mal utilizado tal potencial), e o caminho do meu ponto de vista está na biotecnologia em uma visão mais ampla e ecológica.
Porque criar plantas resistentes a herbicidas e não criar plantas por exemplo com melhor potencial competitivo, excluindo assim as ervas por competição de recursos? Engenheirar plantas que sejam por si prórpias resistentes às pragas do meu ponto de vista é um caminho muito mais sensato a ser seguido.

E neste ponto tenho que concordar com a reportagem, a Monsanto não vai fazer falta nenhuma.


Leia mais em: Evolved glyphosate-resistant weeds around the world: lessons to be learnt

14 de junho de 2009

Reciclagem de Embalagens Longa Vida (Tetra Pak)

Bom sei que esse post foge um pouco ao tema do blog. Mas depois que vi o post da Paula no Rastro de Carbono sobre a empresa que estimula a reciclagem das embalagens Tetra Pak fiquei super curioso sobre o processo e a tecnologia aplicada neste processo.
Pra ser sincero esperava um tipo mais complexo de tecnologia, mas acabei ficando feliz de ser um processo relativamente simples e que pode originar vários produtos diferentes.

Aparentemente, a grande produtora mundial dessas embalagens, a Tetra Pak, tem se mostrado uma grande incentivadora da reciclagem de seus produtos, pelo menos em matéria de divulgação como pode-se ver no site da empresa que dedica toda uma sessão aos seus projetos ambientais e à reciclagem, de onde tirei a maior parte dos dados desse post.

Bom todo o processo de reciclagem se dá inicio com a coleta seletiva, pra isso a Tetra Pak mantém o sistema Rota de Reciclagem, onde você insere seu endereço e ele te dá a localização da cooperativa mais próxima de sua casa, e ainda te fala como chegar lá! Vale a pena dar uma visitada.

Com as embalagens em mão podemos então ter alguns tipos diferentes de resultante, mas ambos começam com o processamento do material em um tipo de liquidificador gigante (hidrapulper), onde as fibras de papel que compõem as embalagens são hidratadas, e então separadas do composto alumínio/plástico que também estão presentes. Tal processo ocorre todo imerso em água sem adição de nenhum produto químico.

Hidrapulper: Inicio do Processo

Hidrapulper: Final do Processo

O papel resultante é processado para a produção de papel reciclado no processo tradicional que pode resultar em papelão por exemplo.

Já o material alumínio/plástico pode ter dois destinos, pode ser utilizado desta forma mesmo, onde pode ser enviado para indústrias de processamento de plásticos onde vai ser utilizado na produção de peças plásticas. Ou então pode ser prensado sobre altas temperaturas para a produção de chapas semelhantes a compensados de madeira que podem também ter vários destinos.

Pellet de Composto Plástico/Alumínio

Temos também uma nova tecnologia sendo desenvolvida (tecnologia de plasma), onde podemos separar o componente plástico do componente alumínio para então termos novamente o alumínio para a um novo ciclo de utilização, e o plástico se transforma em parafina. Tal processo é realizado submetendo-se esse composto a temperatura de fundição em um forno com ausência de oxigênio (para preservar a qualidade do alumínio).

Vaso feito de parafina resultante do processo de "plasma"

Lingote de Alumínio

Bom, matei minha curiosidade, mas ainda estou muito em duvida sobre qual processo é relativamente mais eficiente.
Bom eu sempre me disponho a acreditar, que aquele que resulta o produto final mais puro tem uma maior eficiência, mas quando se olha pelo lado do gasto energético, muito provavelmente (e isso eu to tirando da cartola mesmo) a tecnologia de plasma tem um gasto muito maior.
Será que vale a pena gastar grandes quantidades de energia para reciclar? Ou será inevitável diante do esgotamento iminente dos recursos naturais do planeta? Ou eu estou doido mesmo e o negócio é reciclar não importa de que jeito!?

12 de junho de 2009

Metagenômica e Biotecnologia Ambiental II - O esquema

Bom, pelo jeito não atingi muito bem meu objetivo ao tentar elucidar, um pouco que seja, a aplicação da metagenômica em tecnologias favoráveis ao meio ambiente.
Então resolvi procurar um esquema (coisa que deveria ter feito no ultimo post) o mais generalista possível e explicar o passo a passo do processo. Duvidas? Deixe um comentário!



Simplificando:
(do início)
- Isolamento do DNA total da amostra do ambiente.
- Manipulação do DNA (picotagem do DNA extraído)
- Ligação dos fragmentos em vetores de expressão (plasmídios) para inserir em bactérias (transformar) e cultivá-las.(No esquema ele usa um BAC - cromossomo artificial de bactérias, mas é somente um outro tipo de vetor)
- Construção da biblioteca (conjunto de colônias transformadas)
- Análise: diferentes colônias poderão expressar diferentes proteínas(enzimas), dependendo do seu interesse pode adicionar o substrato de sua enzima no meio de cultura (no nosso caso algum composto tóxico na agricultura, por exemplo) e as bactérias que conseguirem degradar esse composto no meio (obviamente produzindo alguma coloração diferente) são aquelas que possuem o gene de interesse.

E aí? Melhorou?

9 de junho de 2009

Metagenômica e Biotecnologia Ambiental

Já tem um tempo que venho pensando em uma forma de fazer um post sobre o assunto de metagenômica aplicada a biotecnologia ambiental, mas como fazer isso de uma forma simples e objetiva? Difícil, mas resolvi explicar da forma que eu sei, e qualquer duvida ou correção por favor deixem nos comentários.

A metagenômica é uma técnica de análise genômica de microrganismos independente de cultivo dos mesmos, tal necessidade surgiu a partir da estimativa de que apenas 1% de todos os microrganismos do planeta são cultiváveis, e a análise desses ecossistemas e de sua diversidade seria sempre subestimada se estudada apenas por essa técnica.

Como é feita então? TODO o DNA é extraído diretamente da amostra do ambiente a ser estudado (água, solo, biofilme etc), e é então "picotado" por uma enzima, e esses pedaços de DNA aleatoriamente cortados são inseridos em plasmídios e esses por sua vez são inseridas em bactérias cultiváveis, que irão multiplicar esses plasmídios em várias cópias, e consequentemente os fragmentos de DNA inseridos, formando um "biblioteca metagenômica" de seu ambiente.

As bactérias transformadas são encubadas e as colônias formadas são analisadas (seus plasmídios sequenciados) e sobre tais informações infere-se a diversidade, filogenética ou taxonomia da microbiota do ambiente estudado.

Dificil? Ok ok.. mas como aplicar tal tecnologia á favor do meio ambiente?

Simples! (tá bom... nem tão simples assim), mas, a partir dos plasmídios sequenciados podemos comparar a sequências a um banco de dados de gens já elucidados, com suas respectivas funções.
Dependendo do grau de semelhança que o gens que descobrimos apresentarem com os gens existentes no banco de dados, maior a probabilidade de apresentarem funções iguais ou semelhantes.

E daí?
Por exemplo, se algum "fragmento" que encontramos em nossa biblioteca tem uma grande homologia com um gen de um outro microrganismo que é responsável pela degradação de algum composto tóxico, basta inserir tal fragmento em outro plasmídio que irá expressar tal gen, e pronto, temos agora identificada uma nova variedade de enzima para degradação de compostos tóxicos no ambiente, ampliando a possibilidade de utilização dos mesmos para biorremediação. Quanto mais enzimas conhecemos para degradar determinada família de compostos tóxicos, maior é o nosso "poder biorremediador", já que diferentes enzimas apresentam diferentes "formas" de atuação sobre os compostos.

E quando não temos nenhuma enzima já conhecida para a degradação do nosso composto tóxico alvo? Aí podemos inserir todos os nossos fragmentos em plasmídios de expressão (plasmídios que possuem sequencias promotoras e podem expressar o "fregmento inserido" em uma protéina), e testa-los bioquimicamente na presença do composto alvo ou de um análogo. As colônias que apresentarem atividade de degradação irão ser selecionadas para serem sequenciadas, e comparadas com outros gens que possam ter alguma atividade análoga a do gen encontrado.

Complicado? Um pouco né?

Mas o importante disso tudo são as imensas possibilidades que tal técnica nos abrem.
Se com apenas 1% de todos os microrganismos possíveis de serem cultivados, várias enzimas já foram descobertas para degradação de diferentes compostos, e a aplicação dos próprios microrganismos como biorremediadores já vem sendo difundida, uma ampliação das possibilidades de utilização desta imensa biodiversidade que não pode ou é muito difícil de ser cultivada só pode trazer muitos ganhos para a tecnologia.

Lembrando sempre daquela frase já utilizada por mim aqui no blog, e pretendo repeti-la sempre que se trata de biorremediação, "melhor prevenir do que biorremediar", mas a utilização de compostos tóxicos e de difícil degradação vem sendo cada vez mais difundida na industria moderna (tanto urbana quanto agrícola) e esses resíduos são sempre despejados nos ambientes naturais, quando não vão parar nos alimentos que consumimos, ou na água que bebemos.
Dessa forma não se trata apenas de uma questão ambiental, mas também de saúde publica.

Um exemplo: Molecular cloning and characterization of a novel pyrethroid-hydrolyzing esterase originating from the Metagenome

4 de junho de 2009

Se artigos tivessem seção para comentários...

Material e Métodos:

Outro dia mesmo queria muito comentar em um artigo que li na internet que simplesmente citava uma "bendita" Table 1 no texto que simplesmente não existia... bem normal.. mas dá uma sensação de total impotência.

Então para resfriar a cabeça fui dar uma olhada nos ultimos quadrinhos do phdcomics.com (um site muito engraçado de quadrinhos sobre a vida acadêmica, que pasmem, é mais absurda do que pensamos) e achei essa pérola.

Tipo, eu sou bobo, mas eu ri praca..., voltei no site do artigo que tinha lido, e pasmem novamente, existia uma seção de comentários!
Não pensei duas vezes, gastei todo meu inglês para deixar aquele comentário pomposo e todo educado, pedindo encarecidamente pela bendita "Table 1". No que cliquei em enviar vem seguinte mensagem "Seu comentário agora aguarda por moderação do autor".

Resultados e Discussão:

Sim, eu fui ignorado...