15 de outubro de 2010

Orador da Turma de Ciências Biológicas UFJF 2006-2

Olá a todos, vou postar aqui o discurso que fiz durante a colação de grau da minha turma, e diz muito do que penso sobre ser biólogo, e sobre se formar.

"Antes de dizer qualquer coisa, gostaria de agradecer aos meus colegas de turma pelo enorme presente de poder falar algumas palavras, que expressam parte do que todos estamos sentindo neste momento. Digo “presente”, primeiramente pela honra de estar aqui falando em nome dos meus amigos, mas sobretudo por hoje ser também o meu aniversário.


No momento que me contaram que eu iria ser o orador da turma, várias coisas me passaram pela cabeça sobre o que dizer. Enquanto pensava, fui sendo tomado por lembranças e saudosismo. Quatro anos se passaram e tanta coisa aconteceu em nossas vidas durante o tempo em que pensávamos que seria longo, mas vejam, já estamos aqui.


Voltemos ao início de tudo.


Biologia, do grego Bio (que significa “vida”) e Logos (que significa “estudo”). Aposto que muitos tiveram em algum momento da sua vida essa aula inaugural, em que o professor iniciava a disciplina para os pequenos da 5ª série.


E o tempo foi passando, e todo ano a Biologia estava lá presente em nosso dia a dia estudantil, em certos momentos instigando, em outros nem tanto. E quando chegou o momento de decidirmos o curso para o qual prestaríamos o vestibular, algo nos levou a marcar Ciências Biológicas. Os motivos são únicos e individuais, resultado de toda vivência e aprendizado durante nossa trajetória escolar.


Às portas da universidade no primeiro dia de aula, acredito que todos nós fomos tomados por um sentimento de ansiedade e até certo medo. Era normal. Um novo ciclo se iniciaria em nossa vida, e sabíamos que aquilo iria nos mudar para sempre.


Durante quatro anos, aprendemos que Biologia não se resume ao que estudávamos na escola, e muito menos o simples e puro estudo da vida, no sentido geral e amplo. Descobrimos que nem tudo é tão bonito e emocionante quanto no Discovery Channel e seus documentários, e que engenharia genética é mais simples do que os jornais e filmes de Hollywood querem fazer parecer.


Com o tempo, os motivos pelos quais escolhemos nosso curso foram se tornando esdrúxulos diante das inúmeras descobertas empolgantes e das eventuais desilusões com as quais nos deparamos. Mas com o tempo, novas vontades e novos motivos iam surgindo à medida em que crescíamos e amadurecíamos nossas idéias.


Inúmeros momentos influenciavam nossas descobertas; alguns pequenos, como uma aula, uma prova, uma conversa na cantina. Outros mais duradouros, como os tenebrosos fins de semestre. Todos eles, entretanto, deixaram marcas profundas em nós e ajudaram a definir quem somos hoje.


Nosso aprendizado foi muito além das salas de aula, dos trabalhos e das provas, ele era contínuo durante todo esse tempo. Era aprendizagem de vida, que inclui a convivência, o companheirismo e também a competição. Era rir e chorar juntos, era descontar a raiva e ficar mais calmo, era pedir desculpas, era dar conselhos, era se divertir, era principalmente entender que somos diferentes, porém pessoas com um objetivo em comum, e por isso nos mantivemos unidos.


Hoje então nos formamos oficialmente Biólogos. Quando penso sobre todo esse tempo em que nos esforçamos para chegar a este momento, chego à conclusão de que hoje não nos formamos apenas Biólogos, somos um pouco mais nós mesmos, um pouco mais professores, um pouco mais cidadãos e um pouco mais vivos.


Aquele sentimento que nos tomava no primeiro dia de aula se repete, é a mesma ansiedade que nos toma quando estamos na porta de uma nova fase da vida. E é forte. Acima de tudo, é seguida por um imenso ponto de interrogação. E agora?


Acho que esta pergunta esteve na cabeça de todos nós pelo menos por um instante nesses últimos tempos. “E agora?” E dá um frio na barriga, parece que fica um vazio.


Mas como em todo e qualquer cientista, perguntas sempre vêm acompanhadas de uma enorme vontade de respondê-las. E a perseguição pela resposta e o processo da descoberta são melhores e mais prazerosos do que necessariamente a resposta. Tudo isso ainda parece menor, quando pensamos que a nossa vontade de responder irá com certeza nos incentivar durante boa parte da vida. Sempre haverá perguntas e nós sempre buscaremos respostas.


E assim uma nova gama de possibilidades se abre. Juntamente com elas, uma série de novas responsabilidades. O diploma que nós recebemos hoje é também um contrato que assinamos com a sociedade. Antes de ser um profissional é preciso que estejamos cientes do nosso papel como tal. Ser um Biólogo implica em ter responsabilidade com a prática da ciência, trabalhar para o bem da nossa sociedade e do nosso planeta, implica em ser um professor ciente de sua importância e de sua posição como um formador de opinião, sempre tendo em mente que é possível, sim, criar um mundo mais justo, humano, limpo, e melhor através da educação.


É importante lembrar que a valorização de qualquer profissão depende, principalmente, do compromisso que os profissionais assumem com o que escolheram. Devemos nos orgulhar de nosso ofício e lutar para que ele seja sempre reconhecido e valorizado. Continuar a abrir nosso espaço na sociedade a fim de fazer com que cada vez mais tenhamos o respeito, pelo que fazemos e pela nossa importância.


Hoje, o cenário global nos favorece. Nunca se pensou tanto na importância do meio-ambiente, da saúde e da educação como fatores de transformação social e de sustentação da sociedade moderna. Hoje, cada vez mais a ciência tem ocupado lugar na mídia e nos meios de comunicação livre, e agora também cabe a nós a responsabilidade de zelar pela integridade e pela ética, repudiando qualquer tipo de manipulação e estando sempre dispostos a revelar a verdade.



Muito ainda virá. Podemos ter a certeza de que estamos preparados para enfrentar os desafios que teremos daqui pra frente.


E hoje, neste momento em que celebramos nossa conquista, junto aos nossos amigos e familiares - fundamentais para essa realização, estamos muito felizes. Felizes porque vemos em seus olhos o orgulho de quem presenciou e lutou ao nosso lado durante todo esse tempo. A eles cabe nossa eterna gratidão e nosso compromisso de continuar sendo motivo de satisfação para todos aqueles que nos cercam.


Aos amigos que fizemos, deixamos todo o desejo de sucesso e realização, nossas vidas seguem novos caminhos, que talvez demorem a se cruzar novamente. Mas tenho certeza de que carregaremos em nossa lembrança a amizade que construímos nesse percurso. E o mais importante: desejamos aos nossos amigos principalmente a felicidade, independente do caminho que sigam. Sentiremos saudades...


Muito obrigado a todos! Agradecemos pela oportunidade de estudar em uma universidade federal, pelo empenho dos professores em ensinar e orientar, pelo ombro que encontramos nos momentos difíceis, e principalmente por acreditarem em nós. Somos vitoriosos e dedicamos esta vitória a todos vocês.


Então, para terminar, eu gostaria de ler um pequeno trecho de um poema de Fernando Pessoa:




(...)

Vivam, vivam, vivam

Os montes, e a planície, e as ervas!

Vivam os rios, vivam as fontes!

Vivam as flores, e as árvores, e as pedras!

Vivam os entes vivos _ os bichos pequenos,

Os bichos que correm, insectos e aves,

Os animais todos, tão reais sem mim,

Os homens, as mulheres, as crianças,

As famílias, e as não-famílias, igualmente!

Tudo quanto sente sem saber porquê!

Tudo quanto vive sem pensar que vive!

Tudo que acaba e cessa sem angústia nem nada,

Sabendo melhor que eu, que nada há que temer,

Que nada é fim, que nada é abismo, que nada é mistério,

E que tudo é Deus, e que tudo é Ser, e que tudo é Vida."

Muito Obrigado.


22 de setembro de 2010

Uma pequena abordagem eleitoral - Eleições, Ciência e Tecnologia

Olá a todos.

Sei que tem muito tempo que não posto nada por aqui, mas como disse no inicio do blog, o BioConnection é um projeto, e este começa a amadurecer conforme eu também o faço.

Para retomar as atividades do blog, escolhi um tema no mínimo polêmico, para não dizer óbvio. E resolvi colocar em um único post as principais propostas dos três principais candidatos a presidência da republica para Ciência e Tecnologia, de acordo com uma busca superficial no google e meios de comunicação em geral.

José Serra - PSDB


Correio Braziliense 21/09/10:

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, defendeu neste domingo (12/9) o aumento no número de vagas nas universidades públicas e o fortalecimento da pesquisa nessas instituições. “A universidade pública tem que ser mais turbinada, de um lado na área de ciência, tecnologia e pesquisa aplicada. Por outro lado, ela tem que se expandir no número de alunos.”


Entre as propostas para ampliar o número de estudantes nas universidades, Serra destacou a ampliação dos cursos noturnos. Segundo ele, desse modo é possível expandir as vagas sem necessidade de uma infraestrutura maior.


“Tem que ter uma política inteligente e não publicitária para a área. Quando é publicitária você aumenta os prédios, mas não aumenta os alunos proporcionalmente”, disse após um passeio com a neta Gabriela pelo Museu Catavento, próximo ao centro da cidade de São Paulo.


Pequeno comentário:

Foi tudo que eu encontrei sobre o assunto partindo do candidato, admito ter sido um pouco decepcionante, mas de uma campanha que desde o início pautou-se em escândalos contra o principal adversário, era de se esperar que o debate político ficasse de lado.
Sobre as declarações me questiono, defender a pesquisa nas universidades sem aumento de estrutura física? Como? Os equipamento precisam de algum lugar para ficar...

Marina Silva - PV


Jornal da Ciência - 30/07/10


O investimento em novas tecnologias e na educação é o caminho para promover as mudanças necessárias para a passagem para uma economia de baixo carbono, de acordo com a candidata do PV à presidência da República, Marina Silva.


A senadora pelo Acre participou, nesta sexta-feira, dia 30 de julho, último dia da 62ª Reunião Anual da SBPC, de um encontro para apresentar suas principais propostas de governo.


Em discurso no auditório da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal, a candidata do PV reconheceu os avanços do atual governo federal, mas ressaltou a necessidade de ir além. "Numa trajetória de três mil quilômetros, se você andou um, faltam dois pela frente. Temos que fazer um esforço progressivo para completar esses dois mil quilômetros", afirmou Marina.


A presidenciável apontou algumas prioridades gerais para a política de ciência e tecnologia. Entre elas, a continuidade dos investimentos para reforçar as universidades e os centros de excelência e a necessidade de melhorar a educação, sobretudo por meio da capacitação dos professores, "para que os nossos alunos se interessem pelo conhecimento, pela ciência, pela tecnologia", segundo disse em entrevista coletiva após o encontro.


Além disso, Marina defendeu o incremento da cooperação internacional em C&T. "O Brasil precisa sair do velho discurso de lutar pela transferência de tecnologia. A China está fazendo protocolo de cooperação científica. E a gente fica brigando nos fóruns internacionais para ter transferência de tecnologia", disse a candidata do PV. Segundo ela, nos protocolos de cooperação, "o professor aprende, domina os processos, e a gente não fica dependendo de transferência de tecnologia, porque isso não nos leva a lugar nenhum".


Outra direção sugerida pela candidata é uma visão integral sobre a ciência, vista "de forma cada vez mais transdisciplinar e de forma a ajudar os dirigentes públicos a tomarem as decisões corretas". Marina insistiu nesse ponto, quando ressaltou, em seu discurso, que os caminhos para a passagem à economia de baixo carbono já foram apontados por uma visão de longo prazo, oferecida pela comunidade científica. O problema, disse a senadora, é ético e político.
Segundo candidata à presidência da República pelo PV, investimentos em pesquisa básica e novas tecnologias são fundamentais para passarmos a uma economia de baixo carbono, com uma inflexão no modelo global de desenvolvimento

Pequeno Comentário:

O discurso me agrada, apesar da forte temática ambientalista, tentando direcionar boa parte da ciência para um único tema (importante, mas único). Mas o que mais gostei foi a parte da capacitação de professores, realmente a educação básica desempenha um papel fundamental no desenvolvimento científico e tecnológico de uma nação, e são poucos os políticos que tem esta visão. Ficou faltando uma proposta concreta de aumento de recursos.
Sobre o desenvolvimento de tecnologias próprias ao invés de ficar implorando transferência: ousado mas muito positivo.


Dilma Roussef - PT

Jornal da Ciência 28/07/10:

A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, sugeriu colocar como meta para a área de ciência e tecnologia, caso eleita, investir entre 1,8% e 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento (P&D).


Hoje, o Brasil investe 1,35% do PIB, segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia.


Em encontro promovido pela SBPC, a ex-ministra destacou ainda a importância da integração das políticas de C&T e educação para o desenvolvimento e soberania do país. Segundo Dilma, o "casamento" entre educação e a política de ciência, tecnologia e inovação é "uma das questões mais importantes para que o nosso país dê um passo decisivo na direção de se tornar desenvolvido, uma sociedade inclusiva e mais igual, uma nação soberana".


No discurso de cerca de 50 minutos, a presidenciável disse que não faria promessas, porque suas propostas integram um projeto de desenvolvimento nacional e partem de um patamar (alcançado no atual governo) que oferece alicerces para uma nova era de prosperidade. Dessa forma, as metas anunciadas, segundo Dilma, seriam ousadas porque "meta existe para você correr atrás". "Quando você cumpre, ela deixa de ser meta", afirmou.

Além da elevação dos investimentos em P&D, ela citou o fortalecimento do programa dos institutos nacionais de ciência e tecnologia (INCTs), coordenado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); a expansão dos centros nacionais de pesquisa (Dilma exemplificou com algumas unidades de pesquisa do MCT, mais o Cenpes, da Petrobras, a Embrapa e as instituições de pesquisa das Forças Armadas); e a manutenção do aumento do número de bolsas concedidas anualmente pelo CNPq e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).


"Nenhum país no mundo conseguiu dar um salto sem, de um lado, dar uma estrutura de bolsas adequada e, de outro lado, financiar o estudo", disse Dilma. A candidata colocou como meta chegar a 220 mil pesquisadores mestres e doutores, ressalvando que não tinha certeza se o número "era muito desafiador". De acordo com dados do MCT apresentados pelo ministro Sergio Rezende durante a 62ª Reunião Anual, o Brasil tem cerca de 150 mil pesquisadores.


As metas incluíram ainda a implantação de 450 novos centros vocacionais tecnológicos (CVTs), "localizados preferencialmente nas cidades polo", a expansão de bolsas para engenharia e a busca pelo domínio de tecnologias estratégicas, como microeletrônica, fármacos, combustível nuclear (com fins pacíficos), fabricação de satélites e veículos lançadores.


Dilma citou a importância do programa espacial para o monitoramento ambiental. "Sem esse instrumento, nós não conseguimos fazer o combate ao desmatamento em todos os biomas brasileiros", afirmou. Mais cedo, em entrevista à imprensa, ela negou que haja leniência em relação às exigências ambientais das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Nós temos levado a sério as questões ambientais das obras do PAC", disse.
A candidata do PT à Presidência da República participou de encontro na 62ª Reunião Anual da SBPC, na tarde desta quarta-feira, dia 28, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal

Pequeno Comentário:


Aumento de verbas: ponto positivo
Aumento de bolsas: ponto positivo
"Casamento" entre educação e ciência: ponto positivo, mas falha ao não incluir a educação básica nesse casório.
Fortalecimento das instituições de pesquisa: Ponto positivo
Meta de 220 mil pesquisadores: pouco, comparado com os EUA com seus 1.400.000 (sem contar os engenheiros), mas chega a patamares próximos ao da Coréia do Sul. (1)

Espero que tenha sido uma leitura proveitosa para todos, e outros comentários sobre as propostas que eu mencionei e outras propostas que vocês achem por aí serão bem-vindas na seção de comentários.