Material e Métodos:
Efeito boomerang na Monsanto
23/06/2009Do Rebelión.org
Nos EUA, agricultores precisaram abandonar cultivos de 5 mil hectares de soja transgênica e outros 50 mil estão gravemente ameaçados. Esse pânico deve-se a uma erva “daninha” que decidiu se opor à gigante Monsanto, conhecida por ser a maior predadora do planeta. Insolente, essa planta mutante prolifera e desafia o Roundup, o herbicida total à base de glifosato, ao qual “nenhuma erva daninha resiste”.
Quando a natureza se recupera
Em 2004, um agricultor de Macon, situada a 130 km de Atlanta, no estado da Geórgia, EUA, notou que alguns brotos de amaranto resistiam ao Roundup que ele utilizava em suas lavouras de soja.
As lavouras vítimas dessa erva daninha invasora tinham sido semeadas com grãos Roundup Ready, que receberam um gene resistente ao Roundup ao “qual não resiste nenhuma erva daninha”.
Desde então, a situação tem piorado e o fenômeno se estendeu a outros estados, como Carolina do Sul e do Norte, Arkansas, Tennessee e Missouri. Segundo um grupo de cientistas do Centro para A Ecologia e Hidrologia, organização britânica situada em Winfrith, Dorset, produziu-se uma transferência de genes entre a planta modificada geneticamente e algumas ervas indesejáveis como o amaranto. Essa constatação contradiz as afirmações peremptórias e otimistas dos que defendem os organismos modificados geneticamente (OGM), que afirmam que uma hibridização entre uma planta modificada geneticamente e uma não modificada é simplesmente “impossível”.
Para o geneticista britânico Brian Johnson, especializado em problemas relacionados com a agricultura “basta que aconteça somente um cruzamento, que pode ocorrer entre várias milhões de possibilidades. Uma vez criada, a nova planta possui uma enorme vantagem seletiva e se multiplica rapidamente. O potente herbicida aqui utilizado, à base de glofosato e amônia, tem exercido uma pressão enorme sobre as plantas, que por sua vez aumentaram ainda mais a velocidade de adaptação”. Assim, ao que parece, um gene de resistência aos herbicidas deu origem a uma planta híbrida surgida de repente entre o grão que se supõe que ele protegeria e o amaranto, que por sua vez se torna impossível eliminar.
A única solução é arrancar à mão as ervas daninhas, como se fazia antigamente, mas isso já não é possível dadas as dimensões das áreas de cultivo. Além disso, por terem raízes profundas, essas ervas são extremamente difíceis de arrancar, razão pela qual simplesmente se abandonaram 5 mil hectares de soja.
Muitos agricultores pretendem renunciar aos OGM e voltar para a agricultura tradicional, ainda mais por que os cultivos OGM estão cada vez mais caros, e a rentabilidade é primordial para esse tipo de lavoura. Assim, Alan Rowland, produtor e vendedor de sementes de soja em Dudley, Missouri, afirma que já ninguém pede sementes do tipo Roundup Ready, da Monsanto, que ultimamente representavam o 80% do volume de seus negócios. Hoje as sementes OGM estão desaparecendo de seu catálogo e a demanda por sementes tradicionais não deixa de aumentar.
Já em 25 de Julho de 2005, o jornal The Guardian publicava um artigo de Paul Brown que revelava que os genes modificados de cereais tinham passado para as plantas selvagens e criado uma “super semente”, resistente aos herbicidas, algo “inconcebível” para os cientistas do Ministério do Meio Ambiente. Desde 2008 os meios de comunicação ligados à agricultura dos EUA informam cada vez mais casos de resistência, ao mesmo tempo em que o governo daquele país tem realizado cortes importantes no orçamento da Secretaria da Agricultura, que o obrigaram a reduzir e depois interromper algumas de suas pesquisas nessa área.
Planta diabólica ou sagrada?
Resulta divertido constatar que o amaranto, essa planta “diabólica” para a agricultura genética, é sagrada para os incas. Pertence aos alimentos mais antigos do mundo. Cada planta produz uma média de 12 mil sementes por ano e as folhas, mais ricas em proteínas que as da soja, contém sais minerais e vitaminas A e C.
Assim, esse boomerang, devolvido pela natureza à Monsanto, não neutraliza somente essa empresa predadora, mas instala em seus domínios uma planta que poderia alimentar a humanidade em caso de fome. Ela suporta a maioria dos climas, tanto as regiões secas, como as de monção e as terras altas tropicais, além de não ter problemas nem com os insetos nem com doenças, com o que nunca precisará de aplicação de agroquímicos.
Assim, o amaranto enfrenta a muito poderosa Monsanto como David se opôs a Golias, e todo mundo sabe como acabou o combate, mesmo que muito desigual! Se esses “problemas” ocorrerem em quantidade suficiente, que é o que parece que vai acontecer, em seguida não restará opção à Monsanto do que fechar as portas. Além de seus empregados, quem realmente se compadecerá com essa fúnebre empresa?
(Dica: Arthur Valente - Professor Dep. de Botânica da UFJF)
Resultados e Discussão:
Texto apaixonado à parte, fui a uma pequena e breve busca sobre artigos publicados sobre o assunto, e descobri que ervas daninhas resistentes ao glifosato (RoundUp) não são exclusividade dos EUA e muito menos do Amaranto. Outras ervas resistentes já foram descritas inclusive no Brasil e Argentina, outros dois grandes produtores de soja e algodão (outra cultura geneticamente modificada com o RoundUp Ready) que também são "clientes" da Monsanto.
Pois bem, um ponto que tenho que me ousar a discordar da reportagem é sobre a transferência de gens da planta modificada (soja ou algodão) para a erva-daninha. Como isso pode ser provado? Que eu saiba existem sim vetores naturais de inclusão gênica, tais como vírus e bactérias, mas normalmente estes infectam plantas adultas, incluem sequências de seu próprio genoma, gerando desta forma tumores (inclusive estes vetores são utilizados em laboratório para a engenharia genética de plantas em algumas técnicas), mas para produzir uma transferência desse modo explicado pelo artigo seria necessário um vetor isolar o gene da planta transgênica e transferir para um gameta da erva daninha. Sobre o cruzamento e a produção de hibridos me parece um pouco improvável, principalmente pelo diferente número de espécies já identificadas e consequentemente de sua diversidade e divergência taxonômica (que se diferem a partir de "Ordem").
O que eu entendo que possa ter ocorrido, me baseando também pelo número de espécies que já demonstraram resistência, é que se trata de um processo de alta pressão seletiva sobre tais plantas, que então acabaram por selecionar os seus próprios fenótipos resistentes. É a natureza dando sua resposta realmente, e da forma que sabe melhor, evoluindo.
Outra ressalva sobre o artigo é o ponto onde ele "praticamente comemora" o retorno destes agricultores a agricultura tradicional. TRADICIONAL galera, ninguém aqui está falando em orgânicos ou agroflorestas, tal método de cultura chega a utilizar doses ainda maiores de pesticidas e herbicidas nas plantações sendo potencialmente muito mais agressivos do que o próprio RoundUp, tanto para o meio ambiente quanto para a saúde humana.
É inegável o avanço tecnológico que os transgênicos trouxeram em matéria de produção (ainda que seja mal utilizado tal potencial), e o caminho do meu ponto de vista está na biotecnologia em uma visão mais ampla e ecológica.
Porque criar plantas resistentes a herbicidas e não criar plantas por exemplo com melhor potencial competitivo, excluindo assim as ervas por competição de recursos? Engenheirar plantas que sejam por si prórpias resistentes às pragas do meu ponto de vista é um caminho muito mais sensato a ser seguido.
E neste ponto tenho que concordar com a reportagem, a Monsanto não vai fazer falta nenhuma.
Leia mais em: Evolved glyphosate-resistant weeds around the world: lessons to be learnt
Um comentário:
Davi, penso tb que a seleção natural priorizou as ervas mais resistentes e dessa forma elas obtiveram sucesso...essa transferência de genes tb acho complicada, mas meu ramo não é a biotecnologia!
Utopias a parte, lembra do que o cientista falou no parque dos dinossauros 1 quando ele constatou que eles estavam se reproduzindo?
A NATUREZA, SEMPRE ENCONTRA UM CAMINHO, UMA SAÍDA...
Brincar com ela pode custar caro, como esta sendo para Monsanto!!
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